Ivan Ferraz segue na cruzada pelo forró

por Janaína Lima / JORNAL DO COMERCIO

Contrariando as previsões feitas há alguns anos, quando as bandas de forró dominavam a cena da música regional, o forró pé-de-serra segue como um dos mais importantes estilos da música nacional. Sem espaço nos programas de TV, e visto como sem importância pelas FMs, o forró autêntico volta agora com mais fôlego que antes. A volta, nesse caso, não quer dizer que o ritmo tenha ‘morrido’ e ‘ressuscitado’, como pode parecer. Na verdade, quem havia sumido era o público, embriagado pelos metais dos instrumentos e pelas saias das dançarinas da ‘ôxente music’.

Essas mesmas pessoas hoje procuram nas lojas os discos novos de artistas como Dominguinhos, Jorge de Altinho, Maciel Melo, Flávio José, Petrúcio Amorim, entre outros. Na trilha dos famosos, seguem também os menos conhecidos, mas nem por isso, menos importantes, como é o caso de Ivan Ferraz. Depois de ter lançados vários LPs, o apresentador do Forró, Verso e Viola, programa que vai ao ar pela TV Pernambuco, há 12 anos, coloca no mercado o seu segundo CD, Forró 2000.

Ivan integra o time dos ‘artistas-formiguinha’, aqueles incansáveis, que não desistem de lutar pela sua causa. O forró para ele é isso, uma verdeira causa, pela qual vale a pena viver e cantar.

Discreto, de voz mansa, Ivan escalou um time de primeira para auxiliá-lo nesta segunda batalha, independente, como no disco anterior, Forró, Verso e Viola. O sanfoneiro Camarão, com toda a sua experiência, comanda o grupo de tocadores, assinando a direção musical e os arranjos da obra. Cláudio Almeida comparece com seu violão numa participação especial; o repentista João Lourenço enfrenta um desafio com o cantor, e o aboiador Ronaldo Boiadeiro solta o vozeirão num lamento sobre as festas de vaquejada.

Os convidados especiais também estão nas letras das composições, assinadas por nomes como Aracílio Araújo, João Silva, Heleno Ramalho, José Marcolino e João Lourenço. As 19 faixas trazem ainda algumas parcerias, com Júnior Vieira (Forró 2000), Lourdes Coelho (Espera) e Fernando Spencer (Rainha do cangaço).
REPERTÓRIO – O Forró 2000 de Ivan Ferraz abre com uma provocação. A música homônima composta em parceria com Júnior Vieira reafirma as falhas cometidas por Nostradamus, que não teve suas profecias confirmadas, e brinca, dizendo que o forró 2000 é o verdadeiro, o autêntico.

A segunda faixa é o arrasta-pé Baita forrozão (João Silva). Ainda no mesmo gênero, estão no CD as faixas Fulô de muçambê (Heleno Ramalho) e Flor rainha (José Marcolino). O xote também está representado no trabalho, pelas músicas Obrigado, Caruaru, (Ivan Ferraz/Aracílio Araújo) e Distância ingrata (João Silva).
A tradição de utilizar o coral feminino, uma das marcas dos discos de forró, foi mantido por Ivan Ferraz. As vozes de Nádia Maia, Joana Angélica e Marilda destacam-se principalmente nas faixas românticas, como a terceira, Xodó e chamego.

Dois bons momentos são os que têm a participação de Ronaldo Boiadeiro e João Lourenço, em Aboios de Vaquejada e Riquezas Culturais de Pernambuco e Piauí. Vale ressaltar ainda o poema matuto A Tampa do Tabaqueiro, recitado por Ivan Ferraz, com solo de sanfona de Camarão. A inspiração vinda dos recitais do programa Forró, Verso e Viola, garantiu um toque de originalidade ao trabalho.

Infelizemente, a iniciativa de acrescentar um arranjo de violão à famosa Pedido a São João (José Marcolino) não funcionou. O toque da sanfona encobriu o instrumento de cordas, que passou quase imperceptível. O disco traz ainda uma regravação de Riacho do navio, uma das composições mais famosas de Zé Dantas e Luiz Gonzaga).

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